#04 // quem sai, quem fica e quem migra.
pra voar livre é preciso saber a hora de migrar.
Nas últimas semanas, recebi um mesmo podcast de várias amigas e seguidoras, todas dizendo que eu precisava escutar e que se lembraram muito de mim. Era uma entrevista com a Júlia, mais conhecida como “Jout Jout” falando sobre sua saída da internet há mais de 4 anos. Eu adoro ela, mas como boa perdida que sou (viver no mato tem dessas), confesso que nem sabia que ela tinha desaparecido da internet pra viver o que se parece muito com a minha vida hoje. Também não fazia ideia quem era uma tal de Déia Freitas, que o interlocutor do podcast afirma que certamente todo mundo sabe quem é, menos a Júlia. E eu, claro.
Eu não sabia muito bem do que se tratava, mas considerando o tema e a quantidade de pessoas que se lembrou de mim com o podcast, eu fiz questão de escutar com total presença, sem pressão pra trabalhar e sem uma pilha de louças pra lavar. Deitei na grama do meu quintal com minha cachorra, coloquei um fone e comecei a escutar a série de 3 episódios, enquanto aproveitava o solzinho gostoso de fim de tarde. Assim que deitei, a sincronicidade dos números repetidos apareceu novamente (a louca dos números), sempre dando um jeito de me fazer reparar que estou no caminho certo. Era 16:16 do dia 16 e fazia exatos 16 minutos que eu tinha recebido a notificação de restrição de tempo do instagram. Tirei até um print. Seja lá o que isso significa, entendi como um sinal. Vai sabê?!
Era bastante evidente o motivo da lembrança das pessoas e a identificação veio do começo ao fim. Desde o barulho familiar das palmas no portão, a vida pacata no meio do mato, a simplicidade da vizinhança que dá pra avistar quem chega por cima da cerca, as visitas surpresas que interrompem meu dia com boas doses de café e prosa, as doces descobertas de criar raízes, mas principalmente o prazer das conversas demoradas com qualquer estranho que tá muito mais interessado em se aprofundar sobre os dilemas da vida do que saber quantos países eu já visitei.
Claro que a Jout Jout viveu o excesso de exposição em uma proporção bizarramente maior que a minha, mas a lição ficou clara: é difícil demais se sustentar nas redes sociais quando a alma suplica por olho no olho.
As palavras da Júlia ressoaram tanto que até sonhei com isso hoje, e cá estou, rascunhando meus pensamentos na tentativa de entender o que me pegou. De certa forma, era como se eu pudesse ouvir meus próprios conselhos, caso eu tivesse escolhido um caminho diferente que já me foi apresentado inúmeras vezes.
Sempre tive a sensação de estar pisando no acelerador com o freio de mão puxado, sabe?! Eu confesso que não dou conta de acompanhar ninguém no instagram e meu consumo é quase nulo, para além do tempo que aquilo já demanda pra que eu tenha uma vida virtual minimamente ativa (que não é pouco). Tenho diversos amigos que começaram na minha época e que seguem a todo vapor, produzindo conteúdos em um ritmo que talvez até uma máquina pifaria e alçando grandes voos, claro. Prefiro não opinar sobre a saúde física e mental dos coleguinhas porque cada um sabe de si, mas constantemente me pergunto se um dia eles pararam pra repensar sobre seus conceitos de sucesso.
Sem falsa modéstia, eu sei que não me faltaria talento e bagagem pra fazer o mesmo se eu quisesse, mas minha intenção nunca foi essa. Na verdade, sempre tive um verdadeiro pavor de me tornar famosa apenas pela fama, sem sentir que estou deixando um legado com meu trabalho. Minha terapeuta - coitada - já não aguenta mais me ouvir falar do quanto a vida virtual me deixa esgotada. Toda semana eu recebo ao menos uma mensagem carinhosa de alguém dizendo que meu trabalho é necessário aqui na internet, que eu deveria aparecer mais, que eu não uso todo meu potencial, que mais pessoas deveriam me conhecer e aquele monte de “você tem que” isso ou aquilo.
É uma dicotomia e tanto. Arriscaria dizer que essa galera que enche o peito de orgulho por quebrar os padrões, largando um emprego estável pra viver a “vida dos sonhos”, anda tendo mais burnout que muito engravatado por aí. Quiçá seja ainda pior, porque aqui “do lado de fora” você não tem nenhum sistema opressor pra culpar e é muito mais difícil enxergar o limite quando ele é disfarçado de belos horizontes e aplausos incessantes nas redes sociais. A verdade é que vivemos uma liberdade que nos aprisiona e uma conexão profundamente solitária. São tempos estranhos.
Sinto que o distanciamento social que a pandemia nos obrigou a praticar deixou sequelas até hoje e é preciso fazer um resgate do que ficou pra trás. Por mais ermitona que eu seja, eu preciso estar com pessoas pra me sentir viva. Por isso mesmo tenho feito tantos movimentos na busca de reconectar com essa vivacidade nas experiências que tenho conduzido. Inclusive, deixo aqui um áudio espontâneo que me emocionou muito ontem, de uma mulher que participou da minha última imersão.
Sou imensamente grata por ter construído uma comunidade que está aqui, parando pra ler um e-mail longo com meus devaneios, mesmo na correria da vida. Ou pelas pessoas tão malucas quanto eu, que confiam de olhos vendados e se jogam de cabeça em uma imersão de fim de ano que decidi criar em plena contagem regressiva - por sinal, ainda dá tempo de se juntar, viu!
Muito além dos números, sinto que eu só consegui criar o trabalho consolidado que tenho hoje porque, acima de tudo, eu sou completamente apaixonada pela vida e pela linda oportunidade que temos de evoluir com ela. Embora eu ainda não possa fugir da internet, eu me vejo como um pássaro livre que pode migrar e reconstruir meu ninho com mais conexão, qualidade e presença.
Me despeço hoje com uma pergunta:
você tem buscado construir uma vida realmente compatível com seus desejos ou ainda sente que está caminhando junto com a manada?
A vida só faz sentido se for vivida de verdade.
Nunca esqueçam disso.
Até o próximo chamego!
Com carinho, Patchi.